Kovic é jovem um estadunidense "boa praça" produto da geração dos Baby Boomers pós II Guerra Mundial, que acredita nos ideais do "American way of life" e da classe média estadunidense, compartilhando de todas as crenças políticas que, em geral, povoam a mente do cidadão Norte Americano médio: anticomunismo, crença na sociedade de consumo, patriotismo exacerbado (e em geral temperado por um certo irracionalismo religioso) e a incorporação da idéia dos EUA como o defensor da liberdade mundial. Estes são alguns dos motivos que levam Ron (Cruise) a se alistar como voluntário na Guerra do Vietnã (1965-1975).
Contudo as experiencias de guerra deixam sérias feridas na vida de Kovic, tanto físicas (se torna paraplergico), quanto morais e mentais. Em seu retorno, sofre com o descaso do governo para com ex-combatentes e o desprezo da sociedade (incluindo sua família). Kovic é visto como um inválido, fracassado e perdedor; uma vergonha nacional. Tais fatores fazem com que todo o arcabouço de crenças. nas quais ele pautava sua vida, se desmorone. Kovic passa de patriota, "combatente leal para com a pátria" à militante anti-guerra, junto a outros ex-combatentes e militantes de uma contra-cultura em plena ebulição em fins da década de 1960 e 1970.
Cruise interpretando o veterano do Vietnã: Ron Kovic |
O filme me interessa por estar relacionado com o trabalho que desenvolvo no mestrado: a análise da trilogia Rambo na década de 1980. Nascido em 4 de julho representa um tipo do filme que podemos considerar como uma antitese dos filmes pró-guerra Rambo II: a missão e Rambo III , respectivamente de 1984 e 1987 (um dia faço uma postagem falando somente disso). Além do que o filme pode ser ideológicamente contraposto ao trabalho anterior de Tom Cruise: Top Gun: Ases indomáveis, um filme no qual a guerra é vista de forma empolgante e excitante.
Kovic em protesto contra a Guerra do Vietnã |
É incrível ver que mesmo uma indústria cinematográfica tão ideologicamente pautada por valores conservadores e que tradicionalmente apoia governos militaristas e que inunda as telas com mensagens americanistas, possua brechas para filmes questionadores. É importante notar que a industria do cinema é complexa, é permeada por diversos fatores, incluindo o de mercado, e mesmo com uma alta cúpula de executivos aliadas ao governo, existem artistas que mantém uma postura crítica à alguns valores e crenças da sociedade estadunidense e que conseguem transitar utilizando a estrutura econômica dos estúdios para produzirem contestações e debates em torno de questões importantes.
O veterano Ron Kovic (o de verdade) é até os dias de hoje um ativista e militante anti-guerra, é, atualmente um crítico ferrenho do impulso militarista do século XXI e das invasões do Afeganistão e Iraque
Não existe um motivo especial para eu estar falando sobre isso justamente hoje, a não ser o fato de eu ter visto o filme por acaso anteontem. Nem tive a intenção de trabalhar com a perspectiva da crítica cinematográfica. O que me interessa são os fatores históricos que eu mencionei.
Kovic em protesto contra as guerras de George W. Bush (Afeganistão e Iraque |
Músicas como Fortunate Son, do magnífico grupo californiano Creedence Clearwater Revival, fazem uma crítica à convocação dos jovens estadunidenses para lutarem na guerra do Vietnã.
Creedence é f*da demais... Nunca tinha prestado atenção no sentido da letra (shame on me)...
ResponderExcluiracho que nunca assisti o filme..
Dá pra fazer muitos paralelos do vietnã com o Iraque, as justificativas são semelhantes, o "destino manifesto" sempre tão presente... os motivos que levam à dificuldade de sair da guerra.. a sociedade, que outrora foi brainwashed pra apoiá-la, agora clama desesperadamente o abandono...
Não dá pra esperar boa coisa da decadência hegemônica estadunidense. O século XXI não vai ser menos violento q os anteriores... e eu como boa medrosa que sou, to tremendo até o último fio de cabelo.